21 de janeiro de 2007

Etiqueta pegajoso-familiar

De tempos a tempos todos nós somos forçados a certas coexistências familiares. Seja nas épocas festivas, seja devido à aquisição de uma nova casa por parte de um primo qualquer ou seja, simplesmente, porque tem que ser isto acontece invariavelmente. E no meio destes tumultos há sempre uma geração que sofre: as crianças. (Há que destacar que para a família este rótulo é prolongado até aos 30 anos ou até ao primeiro sinal de reumático.)
Pois é, nós, as crianças! E os momentos que ocorrem durante estas reuniões familiares não são nada bonitos. Há o célebre apertar de bochechas àqueles que têm o azar de apresentar este traço fisionómico bem desenvolvido, o afagar de cabeça que nos deixa desgrenhados e com vontade de emitir grunhidos e os familiares mais ousados atrevem-se mesmo ao beijo repenicado de decibéis bastante elevados. E é triste. Eu propunha processos judiciais em massa e torturas bastante maldosas para estes seres. A ver se eles achariam piada a 400 apertões de bochechas, esses patifes!
O mal é que não se ficam por aqui. Se nos apanharem num dia feliz e paciente pode ser que ainda aturemos um ou outro abraço mais apertado mas rapidamente passam à emissão de frases que, de tão cheias de adjectivos politicamente correctos, fazem doer um rim. Quem ao ouvir o hit “ai ‘tás tão grande!” não tem vontade de pedir para ser detido numa prisão de alta segurança no Chile? Eu tenho. Será que esta gente acha realmente que iríamos medir 50cm a vida toda? Será alguma campanha levada a cabo por anões e apoiada pelos nossos familiares para acabar com as pessoas de tamanho normal? Não sei, mas ambas as hipóteses me parecem bastante plausíveis.
E o respeito pela nossa identidade individual? Inexistente. Somos forçosamente iguais ao pai, à mãe, ao avô, à tia, ao canalizador que ia a casa da nossa trisavó ou, se formos dotados de um aspecto físico não muito harmonioso, somos “iguais” a um qualquer individuo de índole dúbia do pseudo-jet-set (“ai é tão parecido com o Júlio Isidro!”)
Eis outro ponto: o aspecto físico não muito harmonioso. Se a criança se assemelha mais a uma hiena do que a um ser humano porquê o pudor em dizer “Pode ser um filho fofinho mas uma operação plástica fazia maravilhas”? Ou então usem um eufemismo, um “é um bocado pró feinho”, serve. E, pessoas, o que querem realmente dizer quando afirmam de maneira efusiva “Está uma mulher!”? Esperavam que um bebé que nasceu Maria se fosse transformando com o tempo, mudasse de sexo e com 8 anos fosse um Joaquim? Ou alimentavam a esperança sádica de que a tal criança fosse, no fundo, hermafrodita? (Nesta pergunta, gostaria realmente que alguém me ajudasse na obtenção de uma resposta).
Não levem a mal, isto é só um apelo a uma relação familiar mais verdadeira e saudável, menos pegajosa (Não, Tia Adelaide, não gosto dos seus beijinhos!) e que preserve melhor a nossa sanidade mental, integridade física, as nossas bochechas e couros cabeludos. Porque eu cá gostava de viver até ser avó para fazer este rol de maldades aos netos dos outros.

Um beijo assim um bocado repenicado para vocês.

P.s. – claro que receber no fim disto tudo dinheiro das tias todas sabe bem mas ai surge a pergunta: será que levar aqueles afalfanços todos e ouvir os impropérios vale a pena para receber 30€? Ou será esse o preço da nossa paz?

3 comentários:

Marta Ceia disse...

A família é importante na vida de uma pessoa: é o nosso sangue, o nosso apoio......Mas até que ponto é que alguém é nosso familiar? Os primos em 304º grau ainda são da família? E aquela tia-tetra-bis-avó que nem é tia mas era amiga da vizinha da tia do nosso primo em 12º grau (practicamente nossa tia, portanto)pode ser considerada parente? Até podia, se não fosse o caso de ela continuar a teimar em ir às reuniões de família (aquelas onde conhecemos primos que ninguém sabia que existiam)e chatear os sobrinhos-netos todos com perguntas do género "então e a escolinha?" mesmo que eles tenham 35 anos (mas a senhora já sofre de Alzheimer, por isso nós perdoamos).
Estou, pois, solidária com a dor da minha fellow tertuliana.As tias são umas queridas, mas pelo telefone,onde não nos podem tocar nem manchar as bochechas com o baton "rouge" que já não se vende desde 1965.

Anónimo disse...

Não pessoal a sério aqui falam-se de coisas com interesse

Anónimo disse...

LOL eh mm isso!!! curti bue!!